Mudança na CLT, a vida de gado e o novo governo
- Ailton de Toledo Rodrigues
- 8 de set. de 2016
- 2 min de leitura

“Não amarre a boca do boi quando ele estiver debulhando o trigo” diz a lei mosaica, em Deuteronômio 25:4, a qual se traduz em um princípio de que nada é mais justo do que o boi comer uma porção daquilo que produz; afinal, sem ele, qual produção haveria?
Não pretendemos diminuir o trabalhador a um animal irracional. A figura no caso se empresta da composição de Zé Ramalho ao comparar a classe trabalhadora com a “vida de gado”, um “povo marcado”, mas “feliz”. E nesse contexto, em uma simples analogia dessa vida de gado, as nossas normas trabalhistas pretendiam a mínima proteção comparável com aquela trazida no Torá, pois defender o trabalhador é proteger aquele que produz a riqueza do país.
Todavia, mandato após mandato, vemos governos debruçados em produzir maldades à classe que não tem tempo para protestar (porque está trabalhando). Não é um fenômeno exclusivo da direita: o PSDB aumentou o tempo para aposentadoria por idade, assim como o Partido dos Trabalhadores defenderam a primeira lei a dar permissão que o empresário reduza o salário do empregado no período de crise (e quando o Brasil não vive em crise?); agora, o PMDB busca elaborar uma nova lei trabalhista que “flexibilize” as relações trabalhistas. As palavras pode soar como uma evolução, mas qualquer que seja o conceito para a mordaça que se coloca na boca do boi, esta nada mais é do que privá-lo de desfrutar do que trabalha para construir.
Amarras para o gado, churrasco para os que se fazem de dono: afinal, ainda que o Brasil esteja em recessão e o PIB tenha despencado em -3,8% no ano passado, os três poderes aplicam generosidades, para si mesmos. Em tempos de absurda crise o judiciário aprova aumento de 41,4% aos ministros do STF, 20% aos servidores do legislativo e 10,8% ao executivo. Afinal, que o trabalhador que mantem a riqueza do país sofra.
No viés político, protesta-se pelo que se entender ser maior importante: uns grupos brandearam o “fora Dilma”, atualmente ouve-se o “fora golpista”, mas ninguém luta pelo “fica CLT”. Isto porque quem se preocupa com os direitos do trabalho é quem não tem tempo a perder nas ruas. Pode parecer comodismo para uns, mas entendemos tratar-se do pragmatismo que se ganha quando as contas começam a acumular e daquele que sabe que a geladeira não vai se encher sozinha.
Somos um país majoritariamente trabalhador. Bois que dedicam mais da metade da vida trabalhando para debulhar o milho que será servido nas fartas mesas da esplanada dos ministérios, para um público sedentário, acostumado a tirar do direito de muitos para a garantia dos poucos. Um governo que olha como se fossemos gado.
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